domingo, 5 de fevereiro de 2012

OFUN MEJI COMO O ETU ADQUIRIU IMPORTÂNCIA NO CULTO AO SER ABENÇOADO POR OBATALÁ




Naquele tempo a galinha d’angola era inteiramente preta e vivia só e infeliz dentro da mata. Para resolver seus problemas de solidão, foi consultar o adivinho de Obatalá para que lhe indicasse um ebó que lhe permitisse conseguir uma companheira como todos os demais bichos possuíam. Chegando à casa do adivinho, o pobre animal não foi por ele recebido porque, sendo completamente preto, não poderia entrar numa casa onde o Orixá do Branco era cultuado, pois a cor preta era considerada como uma grande ofensa.
Desolado, o bicho que apesar de viver só era muito rico, reuniu uma grande quantidade de alimentos e saiu sem rumo, na esperança de encontrar em outro lugar qualquer, alguém que lhe fizesse companhia.
Depois de muito caminhar encontrou, numa clareira, um velho muito estropiado que gemendo, estendeu-lhe as mãos dizendo:
- "DÁ-ME UM POUCO DE COMIDA E DE ÁGUA, POIS ESTOU EXAUSTO E JÁ NÃO POSSO CONSEGUIR ALIMENTO PARA MINHA PRÓPRIA SOBREVIVÊNCIA".
Condoído, Etú serviu de seu próprio alimento ao velho e saciou-lhe a sede com a água que trazia dentro de uma cabaça.
Logo que acabou de comer, o pobre velho, de tão enfraquecido, caiu em sono profundo e, ao despertar muitas horas depois, deparou com Etú que preocupado, velava por seu sono.
Já refeito, o velho perguntou:
- "QUE FAZES SOZINHO NO INTERIOR DESTA FLORESTA? NÃO SABES QUE ELA É SAGRADA E QUE SÓ OS INICIADOS PODEM ADENTRÁ-LA?”.
- "ANDO SEM DESTINO. NASCI SÓ E SEMPRE VIVI SÓ. MINHA APARÊNCIA É MUITO REPUGNANTE E MINHA FEIÚRA IMPEDE QUE AS PESSOAS PERMITAM QUE ME APROXIME DELAS”. REPLICOU A AVE.
- "TUA FEIÚRA EXTERIOR NADA É, COMPARADA COM TUA BELEZA INTERIOR. APROXIMA-TE MAIS E, COMO RECOMPENSA PELA TUA BONDADE, MODIFICAREI UM POUCO A TUA APARÊNCIA”.
Ordenou o velho.
Pegando pó de efun o velho, que outro não era que o próprio OBATALÁ, soprou sobre o corpo de Etú deixando-o, a partir de então, todo pintalgado. Reunindo alguns elementos sagrados, modelou um cone que colocou no alto de sua cabeça dizendo:
- "A PARTIR DE HOJE, SERÁS O ANIMAL MAIS IMPORTANTE NA RELIGIÃO DOS ORIXÁS, NADA PODERÁ SER FEITO SEM A TUA COLABORAÇÃO E, COMO SINAL DESTA IMPORTÂNCIA, SERÁS O ÚNICO DENTRE OS SERES VIVOS A PORTAR O OXÚ, SÍMBOLO DA ALIANÇA FORMALIZADA ENTRE O INICIADO E SEU ORIXÁ. POSSUIRÁS, ALEM DISTO, TANTAS FÊMEAS QUANTAS QUISERES E TUA PROLE SERÁ NUMEROSA E SE ESPALHARÁ SOBRE A TERRA”.

Por este motivo a galinha d'angola possui o corpo coberto de pintas e carrega sobre a cabeça uma crista cônica, assemelhando-se ao neófito durante o ritual da iniciação. Sua presença em todas as cerimônias iniciáticas é indispensável e todos os Orixás a exigem em seus rituais.

6 comentários:

  1. IFÁ DIZ:
    AQUELE QUE NÃO QUER SER ENGANADO, PROCURE NÃO ENGANAR NINGUÉM. —

    ResponderExcluir
  2. ODÙ OGBÈ ÒSÉ IFÁ DIZ: BI O BA SE BOWO FUN BABALORISA RE BEENÁ NI ORISA RE O SE BOWO FUN E TRADUÇÃO Do mesmo modo que você trata seu babalorisa ( Iyalorisa ) o seu orisa tratará voce.

    ResponderExcluir
  3. ODÙ OGBÈ MÉJÌ IFÁ DIZ: BÍ O BÁ SE NI LÓORE, OPÉ LÀ NDÁ. ENI TÍ ASE LÓORE, TÍ KÒ DÚPÈ, BURÚ JU OLÓSÀ TÍ Ó KÓ LÉRÙ LO. TRADUÇÃO: Pelos benefícios recebidos, devemos ser gratos. A pessoa a quem fazemos coisas boas e não expressa gratidão, É pior que um ladrão que leva embora os nossos pertences.

    ResponderExcluir
  4. ODÙ ÌRÈTÈ ÌWORÌ IFÁ DIZ: OGUN BAYÉJE, ÒTE NTE OMO ÈNÌYÀN RI. TRADUÇÃO: A guerra rouba o mundo e a intriga destrói a pessoa.

    ResponderExcluir
  5. ODÙ OFUN MÉJÌ IFÁ DIZ: ÌJÀ A MA DA IRE, OWO, OLA ISUKUN ATI ILOSIWAJU NU. TRADUÇÃO: A briga impede a chegada das bênçãos, do dinheiro, da riqueza e do progresso.

    ResponderExcluir
  6. A iniciação é um rito de passagem, uma morte simbólica que transforma um homem comum em um instrumento do Orisa, em um "ELEGUN", pessoa sujeita ao transe de possessão, a emprestar seu corpo para que Orisa viva entre nós mais uma vez, por um período de horas ou dias. O iniciando passa por ritos complexos, de isolamento e segregação, de silencio absoluto, de tonsura ritual, de sacrifícios de animais, de oferendas de alimentos, de pequenos cortes para inserção de pós mágicos em seu corpo (GBUERES = CURAS - cicatrizes sagradas que definem os futuros sacerdotes), simbolizando uma volta ao útero da Mãe Terra, de onde renascerá, não um homem comum, mas o instrumento de um Orisa, que por sua boca e seu corpo falará e se manifestará, aumentando assim seu conhecimento e o de todos os outros crentes.
    Sua apresentação, já com sua nova personalidade e seu novo nome, ao público do Templo e da cidade, transforma-se então em uma festa de cores e de beleza inenarrável, aonde todos comparecem desejosos de compartilhar AXÉ (palavra que define nossa Religião: A/AWA: nós, XÉ: realizar, Axé - nós realizamos). Por várias vezes o neófito é apresentado ao povo, vestido e pintado com cores próprias do Orisa ao qual é consagrado, ao som dos tambores e de ritmos e cantigas tão antigas quanto a vida dos homens neste mundo. E a cada troca de roupas, mais o AXÉ se espalha pelo Templo, culminando com a vinda dos Orisa, que vêm brincar e falar com seus filhos diletos, demonstrando sua satisfação por mais uma etapa cumprida.
    Cada item tem seu significado nesta hora. A pena vermelha, chamada "EKODIDE", que o ELEGUN carrega em sua cabeça, simboliza realeza, honra, status adquirido pelo fato de ele ter se iniciado para ser um novo SACERDOTE dedicado ao culto daquele Orisa. As pinturas em cor branca, azul e vermelha, feitas a partir de substâncias vegetais e minerais, são os símbolos dos líquidos vitais de animais, plantas e do próprio ser humano, essenciais para a nova vida do iniciado.
    A melhor roupa vestida por ele, por sua família, e por todos os presentes, demonstram o respeito e o apreço por Orisa. Como se fossem se apresentar frente a Reis, nada menos que o melhor é permitido, uma vez que muitos Reis são os representantes de nossos Orisa neste mundo, descendentes diretos que aqui ficaram para perpetuar sua força vital. Isto se estende aos alimentos e bebidas, cuja qualidade é severamente observada, aos animais oferecidos, às contas para a confecção de colares, e a todos objetos que compõem o Ebo.
    O BOM NÃO É SUFICIENTE, SÓ O MELHOR É DADO PARA O ORISA.

    Por muitos dias o neófito irá carregar consigo um colar especial de sagração no pescoço, simbolizando seu amor, devoção e sujeição ao Orisa. Neste período também cumprirá resguardo sexual, porque esta energia não pode ser desperdiçada, toda sua força energética deve estar centrada em Orisa. Comerá comidas especiais, dormirá no chão, em uma esteira (PROTEÇÃO CONTRA IKU, A MORTE), aprenderá com os mais velhos as orações e cânticos de seu Orisa. É um tempo de amor, dedicação e aprendizado, um reaprender a viver, uma inserção do sagrado no cotidiano, uma experiência que não pode ser descrita, mas sim vivida.
    E a possessão faz parte de tudo isso, um ser dominado; um compartilhar corpo e espírito com Orisa; um ser o DEUS e voltar a ser o homem; sem a menor possibilidade de interferência, em que a perda de vontade própria e a submissão são aprendidas sem que se ensine ou aprenda, por instinto e memória ancestral. Algo de tribal, algo de divino, algo de humano, algo de fantástico.
    SER PARA SABER.
    E, ao fim de tudo, o ELEGUN reaprende os atos do dia a dia, retoma sua vida diária, mas para ele estará em primeiro lugar e sempre o Orisa. E, conhecendo através do oráculo sagrado, o IFÁ, suas interdições, as proibições que Orisa e ancestrais lhe deram durante sua iniciação, ele conhecerá seu lugar na rígida HIERARQUIA tribal, familiar e religiosa e viverá melhor sendo um "OMO AWO", filho do segredo, do que sendo tão somente um ser humano.

    ResponderExcluir